Sofismo

Foi um adepto da democracia, denunciou os preconceitos nobiliárquicos e exaltou o igualitarismo ao ponto de se opor á clivagem tradicional entre Gregos e Bárbaros.
Obra principal é um tratado intitulado “verdade”, em dois livros. Atribui-se também “sobre a concórdia” e “político”. Uma obra particularmente interessante, intitulada “da interpretação dos sonhos”. O caráter interpretativo dos sonhos era já cientifico e racional.
As figuras e seu fundo - Antífon
Atribuía a superioridade ontológica, que seria decisiva para o destino da metafísica ocidental. O arrythmiston constitui a natureza profunda dos seres, a sua verdadeira realidade, e significa “livre de todo o ritmo”, “livre de estrutura” ou, ainda, “fundo”. Por rhythmos podemos entender modelo, contorno, estrutura ou organização.
A realidade da retificação da curva demostra a possibilidade da passagem de uma forma geométrica a outra, sendo a sua verdadeira realidade a homogeneidade do espaço.
O arrythmiston é positivo porque rejeita toda particularidade, toda a determinação, pois esta é negação. O arrythmiston é “reserva” no duplo sentido do termo: o de reservar, mas também o contido na expressão “estar na reserva”. Pode dizer-se que o arrythmiston é a juventude da natureza. A autossuficiência do “livre de estrutura” tem como consequência subtrai-lo ao tempo.
O homem é um velador de dia e é também o ser de um dia. Aquilo que o substitui é verdadeiramente um outro e não um outro eu. Para o indivíduo, cada ponto do tempo é um posnto de não-retorno, e a atitude daqui resultante relativamente à vida dupla.
A vida é mesquinha, frágio e curta, em suma é quase nada. Mas por ser quase nada, é preciosa. A vida não é nada, mas este nada é tudo. A verdadeira vida é a nossa. Somos irremediavelmente indivíduos, configurações passageiras que além-túmulo não conservavam a sua forma própria e que, por consequência, nunca mais regressam.
A lei contra a natureza – Antífon
Considerava a felicidade do homem ameaçada pela lei. Começou por denunciar a concepção tradicional que define justamente como a obediência às leis da cidade de que se é cidadão.
O reino da lei tem como consequência encorajar a hipocrisia e a dissimulação. A natureza representava a necessidade interna e a verdade e a lei representava a exterioridade acidental e convencional.
As determinações da natureza estão fundadas, daí a sua força, e as da lei não estão, donde resulta a sua fraqueza. O ser da lei é todo de opinião, portanto, não é nada, o da natureza existe independentemente da ideia que se tenha dela, portanto é verdade. Substitui os conceitos severos da ética heroica pelos mais alegres da nova moral: o útil, a vida, a liberdade e a alegria.
O paradoxo antifoniano consiste precisamente na ligação estreita que é estabelecida entre necessidade natural e liberdade. Para o homem, a liberdade é poder obedecer à physis, dizer sim à natureza, opor-se-lhe significa sofrer.
Uma das grandes obras intitula-se “da concordia”. A concórdia tinha para Antífon um fundamento natural. O desejo da natureza é, portanto, o de um entendimento. Para evitar todo o desvio do indivíduo e de toda a ruptura da harmonia social, Antífon pensava poder apoiar-se no conhecimento. Uma falta compreensão da natureza fecha os homens uns aos outros e impede-os de se entenderem.
Todos os homens nascem iguais e não há que fazer discriminações entre nobres e plebeus, e mesmo entre Bárbaros e Helenicos.
A interpretação dos sonhos e terapêutica dos desgostos – Antífon
Um conhecimento original de Antífon foi a “arte de eliminar o desgosto”, que, por sua vez, se prende com o tema da concórdia, que significa também a “unidade de espírito da cada indivíduo consigo próprio”. O que nos faz lembrar o freudismo.
Viu toda a importância das causas psíquicas da doença. A psicologia de Antífon devia ser uma psicologia dinâmica, que concebe o homem como indivíduo entre forçar internas que se confrontam e que ele deve equilibrar.
Na antiguidade, a mântica dividia-se em uma divinatio naturalis e uma divination artificiosa. A interpretação praticada por Antífon insere-se na segunda, pois interpreta como presságio favorável um sonho de catástrofe, e vice-versa. Definia a adivinhação como uma conjectura do homem sábio.
Foi também o que hoje se chama psiquiatra, que procura aperfeiçoar uma “arte de eliminar o desgosto”. Dizia-se capaz de curar por meio da palavra as pessoas que sofriam de desgosto.
Insistia muito no aspecto convencional dos nomes.
É de espantar que tantos testemunhos deste pensador se tenham perdido, sendo um fato que dele nada sabemos. E isto porque de entre todos os sofistas este será, provavelmente, o maior. É de notar a profunda unidade de inspiração que atravessa os fragmentos que dele restam.
Críticas
Vida e obra
Foi um homem de ação mais do que de um teórico. Nasceu em 455 a.C., pertenceu a uma família nobre de tenências oligárquicas.
A vitória de Esparta sobre Atenas consagrou a derrota da democracia. Críticas salientou-se como um dos mais arrebatados oligarcas e foi o culpado de várias atrocidades. O horror que os massacres suscitaram impeliram a resistência dos democratas a organizar-se e a reforçar-se. No decorrer dos combates. Crítias é morto em 403 a.C.
Das obras de Crítias existem ainda vários fragmentos de importância desigual, em prosa e em verso. Em verso, existe as “Elegias”, uma “constituição da lacedemónica”, três tragédias: “Tenes”, “Radamanto”, “Pirithous” e um drama satírico: “Sísifo”. Em prosa, perderam-se os seus “prólogos” de discursos políticos da “constituição dos Lacedemónios”.
A antropologia – Crítias
A chave do pensamento de Crítiasé paradoxal. E esta chave é precisamente a ideia de que os homens são bons mais pelo exercício que pela natureza. O que distinguia para ele a aristocracia era a longa e difícil formação educativa que se lhe dava e que ela si se dava.
Crítias traçou uma linha de demarcação nítida entre o sentir e o conhecer. Pensamento e sensações opõem-se como a unidade à multiplicidade. A teoria do caráter apareceu como o elo de ligação entre a sua concepção do homem e a respectiva concepção política.
O pensamento político – Crítias
Exaltou o esforço da formação voluntária em detrimento da espontaneidade natural, opôs a fragilidade da lei ao caráter que, quando presente em alguém, é inabalável. O caráter não podia, pertencer à multidão, porque e próprio de um indivíduo. Via a lei como algo necessário à sociedade, mas que é imposta pelo aristicrata.
Contesta a ideia da omnipotência da palavra. O seu efeito encantatório nada pode contra o querer esclarecido do homem nobre. Considerava a retórica boa apenas para o povo.
Descobriu que a ei é mais forte que a natureza e que pode até dominá-la.
Os textos de Crítias são muitas vezes citados para ilustrar as manifestações de ateísmo na Antiguidade. Contudo, não se pode dizer que condene a religião, pelo contrário, reconhece a necessidade social da crença nos deuses e os seus efeitos benéficos.
O pensamento acaba por nos aparecer menos embebido de contradições do que se faz crer. Parece professar uma visão antilógica do real. Pensamento da contradição, sem dúvida, mas de uma contradição estabilizada no mesmo sentido pela vitória de um dos contrários.
Lícofon
Vida e as obras
Da vida e das obras pouco se sabe. Sabemos que foi um pensador importante e discípulo de Górgias.
Seis curtos fragmentos ou testemunhos que nos permitem fazer uma ideia de dois acpectos do seu pensamento: a sua teoria do conhecimento e a sua teorua política.
O conhecimento – Lícofon
Consiste das dificuldades da lógica ontológica, procurou ultrapassá-las suprimindo  a ontologia. Para tal, Lícofon suprimiu o verbo ser.
Supõe-se que a metafísica, uma vez que recusava a distinção: entre a substância e o acidente e entre o ontológico e o lógico.
A rejeição do discurso lógico não implica a impossibilidade do conhecimento, mas é a favor de uma concepção intuitiva do saber.
A política – Lícofon
Participou no grande debate sobre a relação entre nomos-physis, entre a lei e a natureza. Via a lei como uma criação do homem que obtém a sua legitimidade da utilidade que tem para os homens.
Pensava que a comunidade política era semelhante a uma aliança. Tal como os estados fazem alianças para se ajudarem, também cada cidadão faz aliança com todos em vista a uma ajuda mútua.
A natureza cria indivíduos todos iguais, logo a nobreza não é mais que um efeito da sociedade.
Trasímaco
Vida e as suas obras
Era originário da Calcedónia, na Bitínia, terá nascido por volta de 459 a.C.. Exercia a profissão de advogado e reivindicava o título de sofista.
As suas obras parecem ter consistido em “Discurso Deliberativo”, um “Grande Trabalho de Retórica”, cujas diferenças partes seriam os Exórdios, os Enternecimento, os Discursos Vitoriosos, os Recursos Oratórios e os Discursos de Circunstancia. Apenas restaram fragmentos que nos levam dois problemas: o problemas da Constituição, que é histórico, e o problema da justiça, que é filosófico.
O debate constitucional – Trasímaco
No fragmento “Da construção” Trasímaco denuncia o sistema maioritário da democracia, que se gastava em discursos contraditórios, quando o perigo se tornava iminente. O sofista faz um esforço para se elevar acima das desgraças que afligem a Cidade, cuja causa política é de duas ordens: conflito no exterior e discórdia no interior. A solução que apresentava era, numa palavra: a concórdia.
Trasímaco, na medida em que pensava que as contradições se resolvem pela implicação mútua dos discursos, que só são contrários na aparência, opõe-se a Protágoras.
Justiça e justificação - Trasímaco
Verificou que a justiça não reina como soberana na realidade de todos os dias, mas sim as infelicidades da virtude e as prosperidades do vício. A lei era vista como um instrumento do poder e não o enunciado racional que deveria ser. Não podia garantir a moralidade.
Procurava a justiça e apenas se declarou com a justificação, com o esforço para legitimar um poder, para transformar uma força em direito.
Foi um dos primeiros a opor tão nitidamente a ética à política e a dissocia-las. É daqui que deriva o seu descontentamento e também a sua  atualidade. Ficou sem duvida no momento do divórcio entre a ética e a política, pois o seu pensamento acerca da interioridade ética não estava maduro.

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