ÉTICA E MORAL – 2ª PARTE
Na filosofia clássica, a ética não se
resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do
latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor
modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na
vida privada quanto em público.
A ética incluía a maioria dos campos
de conhecimento que não eram abrangidos na física, metafísica, estética, na
lógica, na dialética e nem na retórica. Assim, a ética abrangia os campos que
atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia,
pedagogia, às vezes política, e até mesmo educação física e dietética, em suma,
campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou
estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado na
obra Ética, de Spinosa.
Porém, com a crescente
profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à revolução
industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia,
particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas
independentes.
Assim, é comum que atualmente a ética
seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas
morais nas sociedades humanas"5 e busca explicar e justificar os costumes
de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a
solução de seus dilemas mais comuns.
Neste sentido, ética pode ser
definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade
desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.
A ética também não deve ser
confundida com a lei, embora com certa frequência a lei tenha como base
princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode
ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas
éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado,
a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
Já houve quem definisse a ética como
a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por várias razões.
As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de
quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no
passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das
capacidades humanas.
E os experimentos em questões morais
(sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente
propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral
seria instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer
o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência.
A filosofia é um processo de reflexão
sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na
metafísica ela investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio
e as concepções de causa, substância, espaço e tempo que a consciência
científica ordinária não tematiza nem critica.
No campo da ética, a filosofia
investiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem
hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as
instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar.
A verdade é que nenhum tipo de
sistema de ética poderia ter sido construído até que se direcionasse a atenção à
vagueza e inconsistência das opiniões morais comuns da humanidade. Para esse
propósito, era necessário que um intelecto filosófico de primeira grandeza se
concentrasse sobre os problemas da prática.
Em Sócrates, encontramos pela
primeira vez a requerida combinação de um interesse proeminente pela conduta
com um desejo ardente por conhecimento. Os pensadores pré-socráticos
devotaram-se todos principalmente à pesquisa ontológica; mas, pela metade do
século V a.C. o conflito entre seus sistemas dogmáticos havia levado algumas
das mentes mais afiadas a duvidar da possibilidade de se penetrar no segredo do
universo físico.
Essa dúvida encontrou expressão no
ceticismo arrazoado de Górgias, e produziu a famosa proposição de Protágoras de
que a apreensão humana é o único padrão de existência. O mesmo sentimento levou
Sócrates a abandonar as antigas investigações físico-metafísicas.
Essa desistência foi incentivada,
sobretudo, por uma piedade ingênua que o proibia de procurar coisas cujo
conhecimento os deuses pareciam ter reservado apenas para si mesmos. Por outro
lado, (exceto em ocasiões de especial dificuldade, nas quais se poderia
recorrer a presságios e oráculos) eles haviam deixado à razão humana a
regulamentação da ação humana. A essa investigação Sócrates dedicou seus
esforços.
FONTE: Sala de aula
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