A especulação ética na Grécia não
teve início abrupto e absoluto. Os preceitos de conduta, ingênuos e
fragmentários – que em todos os lugares são as mais antigas manifestações da
nascente reflexão moral –, são um elemento destacado na poesia gnômica dos
séculos VII e VI a.C.
Sua importância é revelada pela
tradicional enumeração dos Sete Sábios do século VI, e sua influência sobre o
pensamento ético é atestada pelas referências de Platão e Aristóteles. Mas,
desde tais pronunciamentos não-científicos até à filosofia da moral, foi um
longo percurso. Na sabedoria prática de Tales, um dos Sete, não conseguimos
discernir nenhuma teoria da moralidade.
No caso de Pitágoras, que se destaca
entre os filósofos pré-socráticos por ser o fundador não apenas de uma escola,
mas de uma seita ou ordem comprometida com uma regra de vida que obrigava a
todos os seus membros, há uma conexão mais estreita entre as especulações moral
e metafísica.
A doutrina dos pitagóricos de que a
essência da justiça (concebida como retribuição equivalente) era um número
quadrado indica uma tentativa séria de estender ao reino da conduta sua
concepção matemática do universo; e o mesmo se pode dizer de sua classificação
do bem ao lado da unidade, da reta e semelhantes e do mal ao lado das
qualidades opostas.
Ainda assim, o pronunciamento de
preceitos morais por Pitágoras parece ter sido dogmático, ou mesmo profético,
em vez de filosófico, e ter sido aceito por seus discípulos, numa reverência
não-filosófica, como o ipse dixit do mestre. Portanto, qualquer que tenha sido
a influência da mistura pitagórica de noções éticas e matemáticas sobre Platão,
e, por meio deste, sobre o pensamento posterior, não podemos ver a escola como
uma precursora de uma investigação socrática que buscasse uma teoria da conduta
completamente racional.
O elemento ético do
"obscuro" filosofar de Heráclito (c. 530-470 a.C.) – embora
antecipasse o estoicismo em sua concepção de uma lei do universo, com a qual o
sábio buscará se conformar, e de uma harmonia divina, no reconhecimento da qual
encontrará sua satisfação mais verdadeira – é mais profunda, mas ainda menos
sistemática.
Apenas quando chegamos a Demócrito,
um contemporâneo de Sócrates e último dos pensadores originais que
classificamos como pré-socráticos, encontramos algo que se pode chamar de
sistema ético.
Os fragmentos que permaneceram dos
tratados morais de Demócrito são talvez suficientes para nos convencer de que
reviravolta da filosofia grega em direção à conduta, que se deveu de fato a
Sócrates, teria ocorrido mesmo sem ele, ainda que de uma forma menos decidida;
mas, quando comparamos a ética democritiana com o sistema pós-socrático com o
qual tem mais afinidade – o epicurismo – descobrimos que ela exibe uma
apreensão bem rudimentar das condições formais que o ensinamento moral deve
atender antes que possa reivindicar o tratamento dedicado às ciências.
A verdade é que nenhum tipo de
sistema de ética poderia ter sido construído até que se direcionasse a atenção
à vagueza e inconsistência das opiniões morais comuns da humanidade. Para esse
propósito, era necessário que um intelecto filosófico de primeira grandeza se
concentrasse sobre os problemas da prática.
Em Sócrates, encontramos pela
primeira vez a requerida combinação de um interesse proeminente pela conduta
com um desejo ardente por conhecimento. Os pensadores pré-socráticos
devotaram-se todos principalmente à pesquisa ontológica; mas, pela metade do
século V a.C. o conflito entre seus sistemas dogmáticos havia levado algumas
das mentes mais afiadas a duvidar da possibilidade de se penetrar no segredo do
universo físico.
Essa dúvida encontrou expressão no
ceticismo arrazoado de Górgias, e produziu a famosa proposição de Protágoras de
que a apreensão humana é o único padrão de existência. O mesmo sentimento levou
Sócrates a abandonar as antigas investigações físico-metafísicas. Essa
desistência foi incentivada, sobretudo, por uma piedade ingênua que o proibia
de procurar coisas cujo conhecimento os deuses pareciam ter reservado apenas
para si mesmos.
Por outro lado, (exceto em ocasiões
de especial dificuldade, nas quais se poderia recorrer a presságios e oráculos)
eles haviam deixado à razão humana a regulamentação da ação humana. A essa
investigação Sócrates dedicou seus esforços.
ÉTICA SOFISTICA
Embora Sócrates tenha sido o primeiro
a chegar a uma concepção adequada dos problemas da conduta, a ideia geral não
surgiu com ele. A reação natural contra o dogmatismo metafísico e ético dos
antigos pensadores havia alcançado o seu clímax com os sofistas.
Górgias e Protágoras são apenas dois
representantes do que, na verdade, foi uma tendência universal a abandonar a
teorização dogmática e estritamente ontológica e a se refugiar nas questões
práticas – especialmente, como era natural na cidade-estado grega, nas relações
cívicas do cidadão.
A educação oferecida pelos sofistas
não tinha por objetivo nenhuma teoria geral da vida, mas propunha-se ensinar a
arte de lidar com os assuntos mundanos e administrar negócios públicos. Em seu
encômio às virtudes do cidadão, apontaram o caráter prudencial da justiça como
meio de obter prazer e evitar a dor.
Na concepção grega de sociedade, a
vida do cidadão livre consistia principalmente em suas funções públicas, e,
portanto, as declarações pseudoéticas dos sofistas satisfaziam as expectativas
da época. Não se considerava a virtude ou excelência, como uma qualidade única,
dotada de valor intrínseco, mas como virtude do cidadão, assim como tocar bem a
flauta era a virtude do tocador de flauta.
Vemos aqui, assim como em outras
atividades da época, a determinação de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo
diretamente a assuntos práticos; assim como a música estava sendo enriquecida
por novos conhecimentos técnicos, a arquitetura por teorias modernas de
planejamento e réguas T, o comando de soldados pelas novas técnicas da
"tática" e dos "hoplitas", do mesmo modo a cidadania deve
ser analisada como inovação, sistematizada e adaptada conforme exigências
modernas.
Os sofistas estudaram esses temas
superficialmente, é certo, mas abordaram-nos de maneira abrangente, e não é de
se estranhar que tenham lançado mão dos métodos que se mostraram bem-sucedidos
na retórica e tenham-nos aplicado à "ciência e arte" das virtudes
cívicas.
O Protágoras de Platão alega, não sem
razão, que ao ensinar a virtude eles simplesmente faziam sistematicamente o que
todos os outros faziam de modo caótico.
Mas no verdadeiro sentido da palavra,
os sofistas não dispunham de um sistema ético, nem fizeram contribuições
substanciais, salvo por um contraste com a especulação ética. Simplesmente
analisaram as fórmulas convencionais, de maneira bem semelhante a de certos
moralistas (assim chamados) "científicos".
FONTE: Sala de Aula
Este conteudo e copia exada da que esta na Wikipedia.
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