Teologia da Fé

"A fé é certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem" (Hb 11,1).

O objeto da fé é invisível, ninguém vê Deus, mas acreditamos n'Ele.
A fé traz consigo essa dimensão problemática, pois ela nos coloca com uma relação com o invisível, ela é ao mesmo tempo garantia de alguém que acredita e incerteza pois não pode ser constatado.

A fé não é um elemento especialmente teológico.
É próprio do homem acreditar.

--> Fé antropológica: ciência, confiança humana, dar credibilidade a algo.
O homem deposita sua confiança em alguém ou algo.
A fé gera uma espécie de empenho de vida. É próprio de quem acredita empenhar-se no ideal de que acredita.

--> Fé teologal: fé em Deus; nas coisas reveladas.
É um dom de Deus que o homem recebe e através do qual ele vai empenhar sua vida a Deus.
A fé teologal tem seu ponto de partida em Deus. A fé teologal é fruto da graça de Deus, é Deus quem suscita no homem o dom da fé, a disposição para acreditar n'Ele. Ela traz consigo um elemento de graça e um elemento de conhecimento.
É preciso que vejamos a fé, não no campo do sentimento, mas sim no campo pessoal do indivíduo.
A fé rompe a dimensão do subjetivismo. A fé alcança o nível da objetividade. É objetiva porque ela é um acolhimento das coisas de Deus.
A fé tem sua subjetividade, mas tem sua objetividade, que é a Revelação de Deus.

A fé é um fenômeno humano universal. Toda pessoa tem algum tipo de fé, ainda que esta não seja de caráter transcendental.
Teologicamente podemos dizer que a fé é uma "forma de conhecimento pessoal mediante o qual, sob o impulso da graça acolhe-se a revelação de Deus em Jesus Cristo" (Rino Fisichela. Dicionário teológico enciclopédico, 291).

A fé, não obstante esta definição, carrega consigo uma complexidade de relações que não podem ser definidas em um sentido único. Para se chegar à natureza da fé. É preciso analisar antes a sua forma bíblica e seu correspondente na história. De qualquer forma, o cristianismo teve grande contribuição e até poderia reivindicar para si o uso dessa palavra.

O conceito de fé tem suas raízes na tradição linguística bíblica. Para a compressão da fé do AT, a palavra hebraica emanah, que designa amarrar-se, está firme, ser confiável, ser comprovado é de importância central. Essa expressão remete a um estado de confiança ou esperança pelas quais vale a pena investir toda a existência. O conteúdo da fé veterotestamentária é a confiança no pacto que Deus faz com seu povo Israel. Essa confiança aparece através de formulações de fé.

O povo acredita na palavra de Deus que algo melhor está por vir, há um elemento de invisibilidade, pois por exemplo, no êxodo, o povo não vê a terra prometida, mas acredita na palavra de Deus, no seu comprometimento.

A fé no AT se baseia numa promessa, na promessa de Deus para o povo hebreu, e esse povo acredita, porque existe a concepção do povo que Deus é fiel a suas promessas, e é na fidelidade de Deus que se apoia a esperança de seu povo.
Na base da fé está a confiança. Se não há confiança não há fé.

A fé não é uma experiencia estática, mas sim dinâmica.
Diante do medo de ir a diante, o povo rompe esse medo confiante naquilo que o Deus tinha prometido.

A fé é uma relação pessoal com Deus, uma relação direta com Deus. A fé é fruto da graça de Deus, fruto da experiência espontânea que temos de Deus.

Relação entre fé e obediência. Fé é sinónimo de obediência, pois, aquele que deposita sua confiança em Deus, está sempre disposto a obedece-Lo.

A fé é um pressuposto para os milagres de Deus. Sem a fé não há como alcançar a salvação, nos evangelhos sinóticos a fé aparece como condição para o milagre.
O evangelho de S. João a fé não está relacionada a situações passageiras de necessidades, mas a uma decisão global que conduz à vida eterna. João relaciona fé a vida eterna. O fruto último da fé é a salvação do homem. A fé surge do encontro com Jesus terreno que vai ao pai e que se transforma no "Caminho" para o homem também ir ao Pai.

Nos escritos joaninos constatamos uma coisa interessante, pois o verbo "crer" (pistéuein) aparece 107 vezes ao passo que o substantivo "fé" (pístis) só o encontramos uma vez. Isso revela que João vê a fé mais como um processo dinâmico do que como uma realidade estática.

Em Paulo, a fé significa mais uma resposta do homem diante da mensagem de Cristo. Aqui, "crente" é quase sinônimo de "cristão". Em Paulo encontramos o tema de que a fé é uma pré-condição para a salvação: "se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor, e creres com o teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo".
O fundamento da fé é a ressurreição de Jesus Cristo.

A fé tem um objeto formal (conteúdos da Revelação) - Fides Quae --> Fé como Revelação.
E um objeto material (Deus) - Fides Qua --> A Fé em si mesmo, ato de fé.

A fé é uma espécie de conhecimento, porque para se crer tem que se conhecer.
O caráter sobrenatural experiencia o transcendental: dimensão espiritual.
A fé antropológica está no nível natural, enquanto a teologal está no nível sobrenatural.
A fé teologal se distingue pelo caráter sobrenatural.
A experiencia suscita a fé. Quem não tem fé não faz experiencia.

O primeiro caráter da fé é sua sobrenaturalidade.
Outro caráter é o saber, conhecimento.
A virtude intelectual é a busca da verdade. A fé procura alcançar a verdade.

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